Envelhecimento global impõe novos desafios à seguridade social

Imagem: Freepik
A expectativa de vida global alcançou 73,3 anos em 2024 e, segundo projeções, chegará a 77,4 anos até 2054. Até 2070, o número de idosos com mais de 65 anos ultrapassará o de crianças com menos de 18. Em pouco mais de uma década, haverá mais pessoas com mais de 80 anos do que bebês com menos de um ano. Esses dados, debatidos em eventos internacionais, evidenciam o impacto direto das mudanças demográficas sobre os sistemas de seguridade social no mundo inteiro.
Esse cenário foi tema central de dois encontros recentes dos quais participei, um em Coimbra, Portugal, e outro em Washington, DC, nos Estados Unidos. Enquanto nos Estados Unidos apresentei reflexões sobre os acordos internacionais de previdência, que permitem a contagem de tempo de trabalho em diferentes países para fins de aposentadoria, em Coimbra o foco foi ainda mais abrangente: tratamos da inclusão social diante do novo desenho populacional global.
A preocupação é evidente. Países em desenvolvimento, como o Brasil, já vivenciam o envelhecimento da população aliado à queda na taxa de natalidade. Entre 2025 e 2054, 48 países, incluindo Brasil, Irã e Turquia, alcançarão seu pico populacional. Em contrapartida, 126 nações, especialmente na África e em partes da Ásia, continuarão crescendo. Em 50 países, a imigração será o principal motor do crescimento populacional, como é o caso de Canadá, Estados Unidos e Austrália.
O envelhecimento da população gera pressões sobre os sistemas de previdência e saúde, ampliando a demanda por benefícios como o BPC e por cuidados prolongados, ao passo que a base de contribuintes encolhe. A redução da força de trabalho compromete a arrecadação e o crescimento econômico. Além disso, o acesso desigual aos serviços públicos, a informalidade crescente e os fluxos migratórios em busca de melhores condições de vida criam desafios sociais, culturais e econômicos.
A chegada de migrantes, embora necessária para muitos países, levanta debates sobre xenofobia, barreiras linguísticas, falta de reconhecimento profissional, e exclusão urbana. Essas dinâmicas reforçam o alerta: a urbanização excludente e a precariedade no acesso a serviços essenciais podem aprofundar desigualdades já existentes.
Apesar das dificuldades, soluções foram apresentadas. Entre elas, destacam-se políticas migratórias estruturadas, como as aplicadas no Canadá, uso de tecnologias para o cuidado com idosos, como ocorre no Japão, e investimentos em renda básica, trabalho decente e educação intergeracional. Também se discutiram ações como o fortalecimento da participação cidadã, o estímulo à formalização do trabalho, a permanência de idosos no mercado laboral e uma reforma fiscal que diversifique as fontes de financiamento da seguridade, incluindo a tributação de grandes fortunas e dividendos.
Mais do que uma crise, o envelhecimento populacional deve ser encarado como uma oportunidade. Uma chance de repensar modelos, renovar laços sociais e construir uma sociedade mais justa, preparada para os desafios do presente e do futuro.
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